domingo, 5 de julho de 2009

O GESTO E A PALAVRA

Na tradição popular um gesto vale mil palavras ao mesmo tempo que se reforça a desvalorização da palavra afirmando que palavras leva-as o vento.
Há poucos dias tivemos a confirmação da valia e actualidade dos ditos populares (ditos que curiosamente são expressões orais e logo palavras...): um gesto impensado e impensável sobrepôs-se a tudo o que foi dito na Assembleia da República e levou à demissão de um Ministro.
Também curiosamente, há alguns anos, recordaram alguns cronistas da nossa praça, um outro ministro também se demitiu (ou foi demitido?) mas por palavras impensáveis e impensadas.
Quer num quer noutro caso tratava-se de amadores, técnicos altamente qualificados que se tinham disponibilizado para desempenhar cargos politicos. Os politicos, aqueles que tornaram a actividade politica em profissão, não escorregam em gestos e fazem da palavra o condimento das refeições que pretendem oferecer (os ingredientes principais ficam sempre reservados para quando a refeição está em vias de conclusão ou pronta para ser consumida).
Desde há cerca de vinte anos, primeiro a ex-Comissão de Moradores e desde 2005 a Associação de Moradores da Urbanização Cidade Desportiva, habituaram-se a não utilizar o gesto, porque além de impróprio é inadequado, ineficaz e lhe falta a clareza necessária a um relacionamento franco, digno e transparente com o poder autárquico e com os demais agentes económicos, sociais e culturais com intervenção no território da freguesia de Monte Abraão, antes freguesia de Queluz, e do concelho de Sintra, e desenvolveram o hábito de escrever, escrever sempre e cada vez mais, apresentando e justificando as necessidades e anseios da população residente na Urbanização Cidade Desportiva, em particular dos sócios da Associação de Moradores, assim como apresentando e fundamentando propostas de solução para os problemas e dificuldades existentes.
Trata-se obviamente de valorizar a palavra na sua forma mais perene, a palavra escrita (em papel e não na areia...) sem no entanto menosprezar a palavra oral cuja relevância e importância é indesmentível e inquestionável, designadamente quando associada a processos de dialogo e colaboração institucionais.
Isto porque infelizmente somos obrigados a reconhecer, e a sublinhar, que uma decisão/orientação louvável - a necessidade de desenvolver e consolidar práticas de desmaterialização dos actos administrativos - se tornou mais um factor de incerteza e de mau relacionamento entre os serviços públicos e as empresas e os respectivos utentes e clientes. Caixas de correio cheias, pedidos de recibo de mensagens não satisfeitos, inexistência de comprovativos de envio de mensagens, impossivel traçabilidade do percurso das mensagens, inimputabilidade de responsabilidades (os destinatários das mensagens são genericamente designados como "geral" e as mensagens são sempre "lidas" por intermediários), etc. Como é óbvio estamos a falar do correio electrónico (que alguns ainda designam como Email), elemento central, mas não único, do processo de desmaterialização atrás referido.
É neste contexto que temos vindo a desenvolver a prática de escrever, escrever sempre e cada vez mais. E sempre que possível em papel. Por mais que isso nos custe.
Lamentavelmente nem assim obtemos resultados. Por mais rigidos e precisos que sejam os procedimentos administrativos os serviços públicos e as empresas já nos habituaram a não responder às cartas que lhes enviamos.
Com rarissimas excepções as cartas que temos escrito quer à Junta de Freguesia de Monte Abraão quer à Câmara Municipal de Sintra não têm no geral qualquer resposta. Nem sequer uma simples resposta acusando a recepção das mesmas.
Perante esta situação a Associação de Moradores vai passar a publicitar neste blog todas as cartas dirigidas a entidades oficiais como forma privilegiada de divulgação das acções promovidas pela Associação no sentido de denunciar práticas e acções injustificadas e inaceitáveis, e de informar e propor intervenções a favor da melhoria das infra-estrutras colectivas da urbanização e da qualidade de vida da população nela residente.